O preço do cafezinho que nos mata.
As alianças e diálogos que amolam a faca contra direitos LGBTI.
Temos visto ultimamente, representantes e líderes de movimentos de diversos campos que tem cedido ao diálogo com pessoas que são ideologicamente contrárias as nossas pautas.
E não estou falando de ser contra no campo de ideias ou da política. Mas de pessoas que contribuem para a perpetuação de estigmas, violência e incentivo ao ódio contra a pautas progressistas, majoritariamente pautadas pela esquerda. Pessoas que estão do lado oposto ao nosso e que tem destruído ferozmente os avanços que vinhamos conquistando, implementando políticas de morte e extremas violações contra os direitos humanos de pobres, negros, mulheres e LGBTI.
Existe uma diferença enorme entre dialogar — quando este diálogo é possível (e é essa a principal diferença entre um governo Progressista e um governo autoritário), e fazer o papel de controle social cobrando gestores que cumpram seu dever.
Há ainda a noção que diferencia inimigo, de adversário. O adversário discorda de nossas ideias e ideais, mas reconhece nosso direito à existência, a diferença e dissidência.
O inimigo quer nos aniquilar, silenciar e banir nossas conquistas.
Bolsonaro, Damares, Witzel, Crivella e todo este governo/bloco anti direitos são nossos inimigos declarados, sempre foram. São muito mais que adversários. E não apenas na política. E quem ignora isso e fica fazendo pose a seu lado, tirando fotinhos fofas com a ministra anti Direitos Humanos, com nossa bandeira, ou com a Janaina Paschoal, está ignorando o mesmo discurso que vem destas pessoas, que nos fere e mata enquanto população.
Durante entrevista para Quebrando o Tabu, Janaina Pascoal reproduziu discurso sórdido do PSL a respeito do assassinato de pessoas LGBT — o discurso de que não existe uma situação específica, mas que LGBTs morrem como todos os demais brasileiros no contexto da violência.
Além disso, citou pontos específicos da Lei João Nery sobre identidade de gênero misturados com mentiras deliberadas que se casam com as fake news que circularam a partir das campanhas do PSL contra o Jean Wyllys, para gerar um pânico moral, como a mentira que crianças poderiam “trocar de sexo”.
Freixo não se preocupou em usar uma linguagem acessível, não respondeu as acusações e devaneios, as comparações esdrúxulas entre direita e esquerda em um ato de quase concordância ou quase arrependimento do lado que se encontra e das pautas que diz defender.
Se ateve em abandonar os sujeitos e pautas identitárias que no contexto do vídeo surgem como problemas e que — de acordo com a entrevista — são responsáveis pela polarização e pelo ódio que estamos submetidos. Esqueceu-se de quantas pessoas LGBT trabalharam em suas últimas campanhas, doando suas criatividades e braços, e fez de conta que se tornou figura pública importante no debate político com o apoio sabe-se-lá de quem.
Fica nítido quais as pautas serão as primeiras a serem deixadas de lado, invisibilizadas e onde serão feitas concessões para alcançar mais eleitores — especialmente da direita que adora um discurso fácil.
Sentar com gestores/políticos da oposição pode e deve, mas devemos cobrar e critica- los — esse é o papel dos movimentos sociais. E em um erro de leitura, o movimento partidário acredita cegamente que movimento da sociedade civil que está a sua disposição, quando o sentido é exatamente o oposto.
Temos que sentar com gestores de secretarias ou Ministérios e cobrar políticas, especialmente quando essas pessoas, mesmo sendo de direita, se colocam para ouvir nossas pautas e apresentam vontade em melhorar a vida das pessoas pelas quais suas pastas são responsáveis. Mas não podemos nunca achar que estas pessoas estão do nosso lado. Normalmente estão ali defendendo os interesses de quem lhes contratou, não do povo.
Mediação não funciona com quem tem interesse em se manter no poder e deseja implementar/fortalecer suas políticas pentecostais, neoliberais e anti direitos. Penso que esteja faltando leitura política e crítica frente a conjuntura atual. Ou vocês acreditam mesmo que a Damares, uma pastora fundamentalista, que tem todo um histórico problemático contra questões relacionada aos direitos das mulheres e da população LGBT vai ceder em algum momento?
Mores, foi essa tática adotada pelo PT, de negociação com todos os lados que nos fez chegar a este momento em que estamos. Não dá para tomar café com o inimigo e achar que tudo vai ficar bem.
Se continuarmos neste ciclo de achar que devemos sentar para dialogar com os nossos algozes vamos continuar fortalecendo essas mesmas figuras que continuam no poder, falando por nós e rifando nossos direitos. E em meu ponto de vista, esse tipo de atitude é um desserviço a nossa luta.
“Aquele que pensa que ele mesmo, o outro, a vida, a sociedade não podem ser diferentes não se abre ao diálogo. O detentor da personalidade autoritária, fechado para o outro e com suas certezas delirantes, chama de diálogo ao que é monólogo.’’ Assim, estaria sugerindo que o que propõe frente ao fascismo, na verdade, é o silêncio — ou não conversar.” (Marcia Tiburi — Como conversar com um fascista)
Temos que enfrentar as velhas práticas que já demonstraram não ter eficácia frente a necessidade de uma ruptura e mudança real para alcançar aquilo que imaginamos como uma sociedade democrática e progressista, e que se posiciona contra o autoritarismo e a política neoliberal.
Coragem de quem tira foto com quem, na primeira oportunidade, vai debochar de trejeitos ou pregar a sua morte ou até incidir contra seus próprios direitos de adoção e casamento ou transição de gênero. E olha que estou falando de encontros públicos, imaginem aqueles nas saunas, púlpitos, escritórios e aviões cheios de cocaína que não ficamos sabendo.
Cobrar não é sentar para tomar cafezinho. E é disso que estou falando.
Já passou da hora de romper e eliminar qualquer possibilidade de diálogo com os nossos inimigos e com quem se alia a eles. Direitos não foram conquistados com cafezinhos, pelo contrário, foram negociados nestes mesmos cafezinhos que tem nos custado muito caro.
Não falem em meu nome. Não é meu nome!