Síndrome de Clodovil: Não me batam, eu não sou igual a eles, sou como vocês!
A Regina George brasileira era um homem Gay, de direita! O primeiro deputado assumidamente gay, branco, rico, misógino, processado por racismo, foi eleito como o terceiro deputado federal mais votado São Paulo, para um mandato medíocre e que recebeu repetidos elogios por seus posicionamentos que se alinhavam ao da ala conservadora anti direitos e fundamentalistas religiosos.
Clodovil ganhou espaço na TV e foi jurado de Chacrinha nos anos 70, mas não era bem visto pela Censura Federal e fez parte de uma lista de “indesejáveis” (como chegaram a ser chamados pela imprensa da época). Foi estilista, apresentou diversos programas de Tv, lançou produtos e marcas, mas sempre foi aquela besha má, que ninguém queria ter por perto, mas que seguia admirada pelo seu vilanismo — Regina George feelings.
Era aquele gay que toda dondoca gosta de ter por perto, desde que não se envolvesse com qualquer homem de sua família. E por diversas vezes repetia com ar debochado e aquele jeito caricaturado:
‘’Eu não tenho orgulho nenhum de ser gay.’’
E porque estou fazendo este resgate? De Clodovil a Evandro Santo, haverá sempre aquelas LGBTI que, mesmo parte da ala dos indesejáveis, fazem de tudo para estar do lado de seus opressores, sempre sorridentes, disponíveis para serem chacota e posando como aquela samambaia dos apartamentos com chão de taco que as gays adoram. Amam bajular quem acreditam ter o poder de os legitimar como gente, e o fazem principalmente para não serem confundidos com aqueles que são vistos como ameaças. Se dizem conservadores e que jamais iriam causar qualquer situação que afronte a tradicional família que os tolera enquanto for interessante.
A maioria das LGBTI que apoiaram e votaram no atual presidente são (ou pensam que são) de classe média/alta. Majoritariamente brancas ou se beneficiam da branquitude, e são cercadas de privilégios. Seja por questões financeiras, por acesso a educação e formação, ou mesmo a informação (sim mores, acesso a formação e a informação é um privilégio e tanto). E obviamente, por seu alinhamento com a ideologia do mainstream neste momento.
Não é a primeira vez que vemos apoiadores do atual governo sendo vítimas daquilo que ele representa: o autoritarismo, a masculinidade tóxica, o racismo, a LGBTIfobia, o Machismo e a imposição dos seus ideais através da violência e da coação.
Temos visto a força o rolo compressor da opressão, onde o próprio estado tem legitimado estas violências, contra aquelas pessoas que sempre foram vistas como inimigas — do estado, mas que vinham conquistando direitos.
Esses dias estive pensando em como chegamos até aqui. Ver muitas LGBTI, negros, pessoas de religiões de matrizes africanas, mulheres, pobres e trabalhadores alinhados com o discurso moralista, fascista, falacioso da igualdade, da meritocracia e mais assustadoramente, ao atual momento de crise moral, ética e politica em que vivemos. Onde direitos destas mesmas pessoas — que não fazem parte do jogo, estão sendo cassados sem nenhum constrangimento e estas seguem apoiando o lado oposto, sendo usadas como token para se contrapor as acusações da militância e ala progressista.
São muitos exemplos que temos visto ultimamente, e é interessante observar que estas mesmas pessoas acreditam que estando neste lugar de subserviência, estariam isentas da violência. A escola do Clodovil novamente mostrando sua cara. E o pior é aceitar que esta foi a escolha pessoal por puro alinhamento político destas pessoas.
Existem páginas e ações repletas de conteúdo e fotos de Gays apoiam o atual governo. Que, conscientemente, resolveram ignorar o cenário LGBTIfóbico, racista e machista que vinha sendo denunciado pela militância, em especial a LGBTI há tempos, e que se acirrou após as eleições.
Foram feitas pesquisas e publicados dados sobre isso. Aliás, não apenas se alinharam com o fascismo, como vivem de criticar a militância, deslegitimar os dados e índices de violência que sempre apontamos. Dizem que a militância é mimizenta etc. Sentam, cheiram, bebem e as vezes transam com aqueles que na primeira oportunidade vão caçoar dos seus trejeitos ou se posicionar (e votar) contra seus direitos.
No caso mais recente, do Humorista Evandro Santo, a POC com síndrome de Regina George, ele é culpado pela agressão que sofreu? Não! Ele é culpado de viver em uma sociedade que é LGBTIfóbica? De forma alguma!
Mas qual a responsabilidade dele em relação a isso? Nenhuma?
Ao se aliar aos nossos algozes, eles não teriam responsabilidade sob o momento que estamos vivendo, pelo apoio e envolvimento publico na campanha de quem sempre se colocou contra a liberdade, e os direitos das LGBTI, além de fortalecer o discurso violento do opressor contra nós, ao se colocarem em defesa de quem sempre nos atacou.
Então mores, nos resta esperar que diante destes tristes episódios, que agora são pessoais (já que antes nunca se importaram), essas pessoas revejam seus posicionamentos. Que ‘’lembrem’’ que são LGBTI e que as LGBTI sempre serão alvo da chacota, da violência e da barbárie. E que passem a assumir seu papel na luta contra a opressão.
Caso contrário, sinto muito. Mas tem muita gente precisando e querendo apoio. Não podemos largar a mão de quem está de mãos dadas conosco para abraçar quem ajuda a bater em nossa cara.
Lembrem-se de que é possível mudar para que não sejamos atropelados pelos ônibus da vida.
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Referências:
5. Lorelay Fox — Sindrome de Regina George — https://www.youtube.com/watch?v=K8wmVKTAKm4
6. https://mobile.twitter.com/rosana/status/1089564562830082048?s=21