A epidemia crescente de Transfobia nos Feminismos

Bruna G. Benevides
15 min readAug 5, 2021

Existem e sempre existiram diversas discussões em torno do que é ser mulher. De quem seria essa mulher como um ideal e ser político, e sobre como a luta feminista frente ao machismo e o patriarcado vem passando por diversas rupturas de pactos anteriormente traçados pelos ideais cristãos, coloniais e imperialistas na disputa pelos direitos de (algumas) mulheres, colocando outras em um lugar subalterno como se fossem cidadãs se segunda ou terceira categoria, sobretudo mulheres lésbicas, negras, indígenas e trans.

E mais recentemente tem se acirrado questões graves relacionadas a transfobia dentro de algumas perspectivas feministas, a partir de uma narrativa que deseja se posicionar como “o real e único feminismo”(sic) e tentar definir o que é ser mulher, principalmente para negar que mulheres trans são mulheres, e que vem sendo conhecidas como feministas trans-excludentes ou antitrans.

Nesse sentido, um dos principais problemas dos feminismos trans-excludentes é a insistência na disseminação de uma ideia em que supostamente a opressão de gênero é igual apara todas as mulheres cisgêneras independente de raça, classe e construção social, e que se basearia em seu sexo biológico (sistema sexo-gênero em que o gênero é informado pelo genital), ou seja, pelo fato de serem nascido com vagina e que, ainda de acordo com as teorias trans excludentes, esta seria então a raiz de toda a violência e subalternização de mulheres nascidas fêmeas(SIC).

E o erro está exatamente no fato de acreditarem no mito de uma mulher universal. O que seria um ideal antifeminista, inclusive já denunciado por feministas negras e lésbicas em diversos momentos da luta feminista — visto que há o apagamento das sexualidades não hegemônicas e das mulheres negras que não eram/são reconhecidas nesse lugar universal. Mulheres negras (que eram vistas sem humanidade) e lésbicas (excluídas do feminismo nos anos 70 porque até então acreditava-se que a raíz do problema das mulheres eram suas relações com os homens, e por serem lésbicas não seriam oprimidas — já que se relacionavam com mulheres) não ocupavam lugar nos feminismos por não terem reconhecidas as suas subjetividades. Já que a construção social da mulher trans, negra, PCD, indígena e periférica não é a mesma da mulher cisgênera branca hetero e rica, que tem diversos acessos e formas eficientes de negociação com a estrutura hegemônica. E que, apesar de oprimidas, tem maiores condições de acessos a espaços, direitos e de escuta em relação as demais mulheres.

A aproximação de ideais trans excludentes como agenda política

No Brasil, as ações dos feminismos antitrans estão entrelaçadas com o campo bolsonarista no ataque contra os direitos relacionados à identidade de gênero na infância, principalmente. Na Espanha, desde o ano passado, feministas antigênero têm vociferado contra a nova lei de identidade de gênero proposta pela coalizão de esquerda Unidas Podemos, o que resulta num impasse dentro do PSOE que hoje lidera essa coalizão. Nesse contexto difícil, Lydia Falcón, líder do partido feminista espanhol, e Alicia Rubio, deputada do Vox na Assembleia de Madri, estiveram juntas em um debate virtual e se alinharam abertamente contra a proposta da lei. Há também cenários complexos se conformando na Argentina, México e Colômbia. Não podemos continuar afásicas frente a essas dinâmicas, mesmo quando seja incômodo debatê-las. (Sônia Corrêa — Em entrevista para o Portal Catarinas)

Seja por ação direta ou por omissão, a transfobia tem encontrado um caminho livre e propício para o crescimento de ideais trans-excludentes dentro dos feminismos, nos espaços acadêmicos e políticos ditos progressistas, sobretudo quando temos visto muitas feministas cisgêneras se esquivando de se posicionarem publicamente contra a transfobia que vem sendo publicamente disseminada por grupos de feministas anti trans.

Temos visto o fortalecimento de uma postura transfóbica e reacionária sendo normalizada dentro dos feminismos. Seja no México, USA, Reino unido, Espanha, Argentina, Uruguai e aqui no BRASIL a ideologia reacionária de feministas trans excludentes segue fazendo estragos na vida e nos direitos das pessoas trans, que aliadas a fundamentalistas religiosos, grupos de extrema direita e outros grupos anti gênero, que no Brasil ganha contornos anti trans, ganharam espaço, segurança e acesso institucional ao longo dos últimos anos.

O crescimento de alianças desses grupos de feministas com fundamentalistas religiosos e com a extrema direita, alguns deles que tem posições contrárias aos direitos das mulheres como o aborto e direitos sexuais e reprodutivos, apesar de não serem novidade quanto a perseguição dos direitos trans, tem incluído uma movimentação intensa onde há investimentos e mobilização política para barrar avanços de políticas trans-inclusivas.

E esses acordos incluem a construção de diversas narrativas em comum no que diz respeito as tentativas de biologização e genitalização do gênero, embora tenham perspectivas diferentes. Enquanto um grupo acredita que substituir "sexo" por "gênero, promoveria de alguma forma a violação da ideologia religiosa que afirma existir apenas macho (XY) e fêmea (XX), e que a existência de pessoas trans de alguma forma violaria uma suposta ordem divina (fundamentalistas religiosos), o outro grupo acredita em um suposto apagamento dos direitos das mulheres para a inclusão de "homens biológicos" — de onde advém toda a opressão da mulher (feministas trans excludentes). Ambos tratam pessoas intersexos como inexistentes ou como "aberrações genéticas".

A ideia de substituir sexo por gênero apaga a ideia genitalista e cissexista que pretende reduzir o ser mulher a um genital. O que é extremamente sexista!

As semelhanças e aproximações desses discursos são muitas, em forma e em conteúdo. Partilham ainda da mesma forma de tratar pessoas trans invalidando suas identidades de gênero e tentando anular e algumas vezes impedir qualquer possibilidade de distanciamento da designação de gênero atribuída no nascimento, motivada pelo genital. Tratam mulheres trans como se fossem homens cisgêneros — doentes ou pervertidos, sugerem que sofrem de uma espécie de autoginefilia ou que de alguma forma pretendem "transicionar crianças por conta de desejos pedófilos", e invalidam a existência de homens trans por acreditarem na ideia de que seriam "mulheres seduzidas pelo patriarcado"(sic).

O vigor das mobilizações feministas trans excludentes se amplificou mais recentemente, possivelmente por que essa rede dispõe de mais apoio financeiro para a promoção de uma agenda contra os direitos trans, assim como em ações anti trans com a construção de projetos de lei que visam institucionalizar a transfobia e garantir o direito de seguirem violando nossos direitos. Mais preocupante ainda é observar que, alguns países, como e o caso do Reino Unido, a grande mídia, inclusive a mídia progressista, tem replicado os argumentos de feministas anti-trans sem maiores interrogações.

Tudo sendo co-orientado e assessorado por mulheres cis feministas — muitas que se posicionam à esquerda e ocupam partidos progressistas, e que tem se colocado como as grandes responsáveis por encampar a perseguição de mulheres trans “do lado de cá”, ganhando apelidos como fascistas de gênero ou fundamentalistas de gênero — pautadas no cissexismo, que valida apenas corpos cisgêneros, enquanto invalidam e agem mutuamente para aniquilar as existências trans.

Há ainda a ideia de que mulheres trans escolheriam “virar mulher” e que por isso a violência que sofrem não seria em decorrência de "terem nascido mulheres", mas por uma suposta escolha consciente de tentar se colocar como aquilo que verdadeiramente não são — mulheres, enquanto afirmam que as mulheres cisgêneras sofreriam violência de forma involuntária por terem vagina e não devido a seu gênero. Atribuindo assim, certo essencialismo de gênero ao ser mulher de forma contrária aos estudos de gênero e de forma essencialmente transfóbica.

Eu poderia mencionar outras muitas semelhanças, mas o fato é que retroagir as discussões de gênero com a intenção de definir o “ser mulher” por critérios exclusivamente biológicos me parece um movimento altamente perigoso para a luta e as conquistas que as mulheres tem tido até aqui, vida lei Maria da Penha, por exemplo.

Quando olhamos para a lei do feminicídio, vemos essa aproximação mais diretamente e na prática. Ao resgatar as discussões da lei para que ela se referisse a violência motivada por gênero, houve um intenso lobby da bancada fundamentalista apoiada por feministas trans excludentes para que o uso do termo gênero (como havia sido aprovado na lei Maria da Penha) fosse substituído por sexo, dessa vez de forma intencional e articulada no sentido de não assegurar proteção na lei a mulheres trans por questões de gênero.

E desde então, temos visto que a insistência no uso do termo sexo admite a real intenção de limitar os direitos das pessoas trans. Vimos o mesmo recentemente quando a lei que protege parlamentares mulheres vítima de violência política foi aprovada também com a substituição da violência política motivada pelo sexo feminino e não pelo gênero — o que acabou por excluir mulheres trans — novamente pela pressão da bancada fundamentalistas e comemorada por feministas trans excludentes nas redes sociais.

“Quando entendemos que a transfobia é estrutural, entendemos também que pessoas trans igualmente estão vulneráveis a violência de gênero, tal como mulheres cis. A transfobia não ocorre por conta de como pessoas trans se portam, se vestem ou se sentem. A transfobia acontece e existe porque a sociedade se estrutura por meio de normas cisgêneras que marginalizam, estigmatizam, discriminam e excluem pessoas trans — independentemente da performance de gênero individual das pessoas trans; anteriormente à forma como, em termos individuais, pessoas trans expressam seus gêneros.

A violência pela qual pessoas trans passam não é por conta dos nossos sentimentos. Pessoas trans sofrem transfobia, pelo fato de sermos pessoas trans.

Somos igualmente alvos de violência de forma “involuntária”. A luta pelos direitos das mulheres trans não é antagônica com a luta de mulheres cis e vice-versa. Quando uma avança e outra também avança. Quando lutamos contra a lógica da culpabilização da vítima de violência de gênero, estamos lutando pelos interesses e direitos de mulheres cis, trans e travestis.” (Beatriz Pagliarini para o blog Transfeminsmo)

Usar “Sexo biologico” para definir “o que é ser mulher” tem sido usado ainda por fundamentalistas e feministas trans excludentes como pauta anti-trans como nos esportes, uso de banheiros, no sistema prisional, e na politica externa internacional do Brasil. Inclusive para dizer quem não é mulher e que essa ideia deveria ser aceita por todas as pessoas sob o manto de uma suposta defesa dos direitos de meninas e mulheres.

E nessa perspectiva, há a disseminação e manipulação de pesquisas, com a inclusão de dados falsos ou inventados e narrativas altamente violentas contra pessoas trans nas redes sociais. Criando uma rede de divulgação e replicação de TransPanic e fakenews para tentar justificar a exclusão de mulheres trans do espaços unissexuais destinados a mulheres e ainda afirmar que a autodeclaração de gênero das mulheres trans abriria espaço para absuadores ou predadores sexuais. Ou que mulheres trans seriam abusadores e pedófilos se passando por mulheres para violar corpos femininos(sic).

A Internet: O playground de feministas trans excludentes

A internet/rede social tem sido um dos maiores espaços de propagação de ideais trans-excludentes, por grandes páginas feministas — algumas famosas, que tem atraído mulheres feministas jovens que passam a acreditar que avançar nos direitos das mulheres trans, faria retroceder os direitos das demais mulheres, já que seriam homens ocupando espaços femininos. Promovendo ainda perseguições, xingamentos, humilhações e exposições de nomes mortos e direcionamento de ódio contra pessoas trans.

O cenário cotidiano para pessoas trans e não binárias é repleto de extrema violência, invalidação e discriminação constante, inclusive entre pessoas cis-LGB. Em 2020, a ANTRA realizou uma pesquisa que incluiu uma breve análise sobre como atuam os grupos de ódio na rede social e, entre outros, os grupos LGB trans excludentes e RADFEM/TERF estavam como os grupos mais citados por publicarem transfobia e ódio transfóbico na rede social, ao lado de grupos como policiais militares, cristãos fundamentalistas, a base de apoio bolsonarista e outros — maiores responsáveis pela disseminação de lgbtifobia na rede social.

É importante ressaltar que essa discussão não é teórica, e ganha contornos altamente nocivos para os feminismos, e enfraquece a organização ampliada que inclui todas as mulheres. Afinal de contas, a violência, o adoecimento e mal estar causados por ideais trans-excludentes, acabam por criar instabilidade e esvaziar os espaços feministas onde pessoas trans deveriam ser acolhidas, e acabam expulsando corpos trans, impedindo que possam agregar na luta das demais mulheres, contribuindo para a perpatuação de estigmas e criando um campo altamente fértil para transfobia.

Tentativas de silenciamento como estratégias de vitimização

Infelizmente, tem sido comum as tentativas de invalidação de denuncias feitas por pessoas trans contra essas pessoas. Insistentemente vemos mulheres cis relativizando as denuncias de transfobia ou evitando tocar no assunto para não enfrentar os incômodos que essa situação nos impõe. E vejam bem, estamos falando de um grupo de mulheres cisgêneras que escolheu se organizar e atuam para perseguir e oprimir o grupo mais violado e marginalizado entre os grupos minorizados e que não tem proteção legal a seu favor.

Não se tratando de um sujeito específico ou de uma característica pessoal, mas de uma ideologia política que ajuda a manter marginalizada a população trans.

Tentam de diversas formas esvaziar a discussão se dizendo mal interpretadas, usam exemplos e informações sem comprovação, casos excepcionalíssimos ou contendo meias verdades para se dizerem perseguidas e que estariam sendo vítimas de misóginia de "machos de saia" ao se referirem a mulheres trans, quando verdade a disputa está em torno de um cistema discriminatório que insiste em uma luta contra os direitos e as existências de pessoas trans.

Constrangem feministas aliadas e páginas feministas que apoiam ou publicam informações sobre pessoas trans. Algumas vezes recorrem a justificativa de “direito a liberdade de expressão” para continuarem sendo transfóbicas, outras respondem com mais transfobia, e muitas vezes quando são expostas ou confrontadas, assumem posturas antifeministas e usam estratégias da extrema direita acusando mulheres trans de tentar silenciar sua ideologia que já se provou diversas vezes transfóbica e violenta.

Como feministas trans excludentes se referem a mulheres trans.

Ainda na mesma perspectiva de utilizar as estratégias de direita, criam inimigos imaginários e colocam pessoas trans como perigosas, adotando a política “nós contra eles”. Dizem ainda que o "transgenderismo" seria uma espécie de seita que pretende transexualizar crianças e adolescentes, ou ainda de promover o que chama de "cura gay" para homens gays cis afeminados e lésbicas cis masculinizadas que, de acordo com elas, estariam sendo seduzidos a se afirmarem trans por pressão de transativistas(sic).

Perseguem, expulsam de espaços e expõem mulheres trans lésbicas, acusando o relacionamento entre trans lésbicas e lésbicas cis seria uma espécie de estupro ao "obrigá-las a se relacionar com seus pintos" ou que homens trans gays seriam mulheres lésbicas cis que transicionaram para se relacionar com homens cis e estaria obrigando esses homens a serem hétero — já que os homens trans na verdade seriam mulheres enganadas eobviamente sem autonomia.

Negam a existência de crianças trans e criam um terrorismo em torno de uma suposta "epidemia trans" entre jovens, dizem que afirmar a existência de crianças seriam seria algo análogo a "abuso infantil" e nesse campo tem feito aproximações com Damares, Janaína Paschoal e outras mulheres também anti feministas que se colocam como defensoras dos direitos das crianças, para proibir o acesso a cuidados de saúde e a transição social de crianças e adolescentes trans. Incluindo a perseguição e ameaças de denuncias "por abuso infantil" os pais que decidem acolher seus filhos trans.

Denunciar essas violências e nomear as pessoas que usam dessa opressão contra pessoas trans, é um posicionamento esperado em defesa das pessoas trans.

Chimamanda e a Transfobia dentro do feminismo negro

É muito difícil pensar que, nem mesmo no feminismo negro, na luta contra o racismo e a precarização das vidas negras, estejamos sendo consideradas. Apesar de ser o espaço de maior abertura dentro dos feminismos, ainda há uma reprodução cistemática da transfobia. É cada vez mais urgente abrir diálogos sustentados sobre gênero e o direito a identidade de gênero com pessoas negras cis, sobretudo mulheres, inclusive para identificar interseções entre as pautas de lutas contra a discriminação das pessoas trans, travestis e não binárias e a luta anti-racista.

Enquanto gritamos “Não à Transfobia”, dizem que estamos enfraquecendo a luta antirracista e muitas vezes nos silenciam. Dizem que "somos todos pretos" e que a luta antirracista caberia todas as pessoas negras, mesmo a comunidade LGBTI+ e especialmente as pessoas trans serem vítimas constantes de apagamento em qualquer outro espaço fora do movimento LGBTI+, e dentro dele também, resistem a discutir o enfrentamento da transfobia nos espaços pretos, como se não fossemos negras.

E nesse sentido, Chimamanda Nigoze se coloca com uma das grandes expoentes de ideais trans-excludentes junto ao feminismo negro — mundialmente. E tem reproduzido o discurso trans excludente de feministas cissexistas brancas e disseminando diversas formas de transfobia ao propagar uma única narrativa sobre o que ela acredita serem a vida e a história das mulheres trans.

Certa vez “escorregou” na transfobia ao reproduzir a ideia de feministas trans excludentes de que mulheres trans teriam e gozariam de diversos privilégios oriundos de uma suposta socialização masculina — novamente a universalidade do discurso sem pensar qualquer recorte — e sugeriu que mulheres trans não seriam “mulheres de verdade” e que “devido a privilégios masculinos", ao nos comparar como homens, "mulheres trans não deveriam ser tratadas como as demais mulheres" — que não tiveram esse mesmo privilégio e que "não devemos misturar as experiencias de mulheres nascidas fêmeas(SIC)”. Dizer que mulheres trans tem qualquer privilégio soa um tanto problemático vindo de uma mulher negra, nigeriana e feminista.

O problema dessa perspectiva é justamente invisibilizar as reais experiências das mulheres trans, ao sugerir que nossas existências seriam as mesmas das dos homens cisgêneros — quando temos fortíssimas evidências e dados que comprovam que não são. E isso demonstra o quanto a cisgeneridade incompreende nossas vivências, seja por não fazer questão de aprender, pela transfobia ou por não se importar com nossas vidas.

Tempos depois — após várias reclamações na rede social — veio uma tentativa de “explicação" sobre o que havia sido dito, e ela completou: “Não me desculparei porque não acho que tenho algo pelo que me desculpar”.

Além de ter se tornado ícone rad, as atitudes de Nigoze que corroboram com a transfobia, permitem que grupos trans excludentes a utilizem como token por ser negra e feminista influente, especialmente quando apoiou publicamente a JKRollg sobre sua obra transfóbica afirmando que seria “uma obra perfeitamente razoável”.

E nesse sentido é extremamente decepcionante ver uma mulher negra como a Chimamanda ir por esse caminho tão violento. Reproduzindo essa lógica colonial e excludente que diminui a mulher a seu genital e vê-la ignorar questões de raça e classe, tão caros a ela — pelas alianças com as “cisters”.

Certa vez ela disse: “Acho que as mulheres brancas precisam acordar e dizer: ‘Nem todas as mulheres são brancas’ e no mesmo sentido poderíamos refletir: ‘Acho que as mulheres cis precisam acordar e dizer: ‘Nem todas as mulheres são cis’.

E o fato é que esse mesmo discurso segue sendo passado entre feministas e aceitos com naturalidade. E qual recado está sendo dado ao futuro da luta feminista em relação as pessoas trans?

Afinal, o que podemos fazer?

Se essas pessoas não querem ser acusadas de transfobia ou de serem RADFEM/TERFs, sugiro que deixem de tomar atitudes que atrapalham de diversas formas a luta das pessoas trans. Abandonem as alianças trans excludentes e a reprodução de transfobia, aprendam a ouvir pessoas trans e enfrentem a transfobia.

Eu acredito que o feminismo precisa ser interseccional, antirracista e anticapitalista. Que, inclusive, escute e acolha homens trans sem oprimir suas identidades.

É muito triste constatar que o feminismo seja usado para esse propósito, principalmente aqui no país que mais assassina pessoas trans no mundo. A nossa construção feminista deveria seguir alinhada com Lélia Gonzales e Angela Davis, e jamais deveria ser pautada pela autora de Harry Potter ou por ideais conservadores e retrógrados!

E nesse sentido, é extremamente importante:

  • Ter posicionamentos públicos contra a transfoBia e em defesa dos direitos das pessoas trans;
  • Enfrentar a disseminação de ideais trans excludentes;
  • Erradicar toda forma de transfobia em espaços feministas;
  • Conhecer a luta transfeminista;
  • Denunciar posturas trans-excludentes;
  • Se relacionar com pessoas trans socialmente a fim de naturalizar nossas existências;
  • Não antagonizar a luta trans à luta das mulheres;
  • Reconhecer que mulheres trans e travestis tem muito a agregar a luta feminista.

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Esse texto levou vários dias pra ser construído, entre leitura, pesquisa, e escrita. Mencionar a fonte como referência diante das reflexões aqui apresentadas é o mínimo que se espera de qualquer pessoa que tenha contato com esse conteúdo.

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REFERÊNCIAS:

O Feminismo tem medo de desapegar da categoria mulher. https://catarinas.info/o-feminismo-tem-medo-de-desapegar-da-categoria-mulher/

Banheiro feminino é para mulheres! https://brunabenevidex.medium.com/banheiro-feminino-%C3%A9-para-mulheres-c03f173956b3

A autodeclaração de gênero de mulheres trans expõe mulheres cis a predadores sexuais? https://brunabenevidex.medium.com/a-autodeclara%C3%A7%C3%A3o-de-g%C3%AAnero-de-mulheres-trans-exp%C3%B5e-mulheres-cis-a-predadores-sexuais-11b27e1ff85e

Dossiê dos assassinatos e da violência contra pessoas Trans brasileiras em 2020. https://antrabrasil.files.wordpress.com/2021/01/dossie-trans-2021-29jan2021.pdf

A Internet Secreta das Feministas Transfóbicas. https://ichi.pro/pt/a-internet-secreta-das-feministas-transfobicas-17285273483031

Ativistas antitrans arrecadaram quase £ 1 milhão para combater os direitos trans nos tribunais. http://encurtador.com.br/cxHLP

Aliança anti trans radfem x religiosos. https://www.bbc.com/portuguese/internacional-51624850

Palestra RADFEM/TERF com a ALT RIGHT. https://www.nbcnews.com/news/amp/ncna964246?__twitter_impression=true

Polícia acredita que caso no spa dos EUA seja fakenews e TransPanic de grupos antitrans. https://slate.com/human-interest/2021/07/wi-spa-la-transphobic-protest.amp

Aliança LGB e sua organização anti trans. https://brunabenevidex.medium.com/alian%C3%A7a-lgb-%C3%A9-um-cavalo-de-tr%C3%B3ia-dentro-do-arco-%C3%ADris-b9038ecc1789

Woman Human Rights Campaign — WHRC (A instituição mudou de nome para Women’s Declaration International — WDI) se diz pelos direitos das mulheres, mas atua perseguindo direitos trans. https://terfiles.medium.com/anti-trans-group-wants-to-eliminate-trans-people-a32d90ba3db8

Uma recente submissão à ONU pela WoLF em colaboração com a organização anti-LGBT de direita cristã “United Families International” mostrou a amplitude da colaboração entre fundamentalistas religiosos e feministas radicais contra direitos trans. chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https://committees.parliament.uk/writtenevidence/17510/pdf/

No Brasil Radfem, através da WHRC (A instituição mudou de nome para Women’s Declaration International — WDI), foram a AGU contra o direito de mulheres trans e travestis no sistemas prisional poderem ir para unidade feminina. outline.com/j53wnj

TERFs da Aliança LGB Brasil patrocinaram webnar contra o acolhimento e cuidados em saúde de jovens trans. https://www.instagram.com/p/CNaKcY1nTmZ/?igshid=r87g1r6gczgq

Itamaraty orienta que gênero seja substituído por sexo/critério biológicos e tem apoio das radfem, que querem manter critérios biológicos para definir o que é ser mulher a fim de excluir mulheres trans. https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/06/itamaraty-orienta-diplomatas-a-frisar-que-genero-e-apenas-sexo-biologico.shtml

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Bruna G. Benevides

Sargenta da Marinha, Feminista, nordestina e TransAtivista. Diversidade acima de tudo, democracia acima de todos!